02 janeiro 2008

Ai, quiquitem?


Este é o primeiro post do ano, e para mostrar um pouco mais do bom humor do meu marido, segue uma historinha que ele escreveu. Espero que gostem!


Desde a infância, Kiki e Sandrinha eram amigas inseparáveis. Brincavam, riam e choravam juntas; trocavam confidências. Bastou entrarem na adolescência para Kiki adquirir o péssimo hábito de usar gravata vermelha. Em outras palavras, acometer-se de incontinência verbal. Falando mais especificamente, adotar o costume de revelar informações sigilosas alheias. Popularmente dito: ficou com a língua comprida.
– Kiki, você contou pra sua mãe que minha mãe ficou grávida do padeiro?
– Contei.
– Pô, eu num falei que era pra guardar segredo? Sua mãe espalhou pra rua toda!
Pior não era pisar na bola. Pior eram as justificativas...
– Ai, quiquitem? Todo mundo ia saber! A barriga ia crescer, mesmo!
Também teve aquela vez, pelo telefone:
– Oi, Kiki, tudo bem? Eu e o George vamos assistir aquele filme de suspense, “Teia Enredada”. Quer vir com a gente?
– ‘Brigada, já assisti. O assassino é o avô da menina, que se disfarçava de mulher.
– §%$#∞, Kiki! Quem mandou contar o fim?
– Ai, quiquitem? Você ia acabar descobrindo, não ia?
E quanto mais passava o tempo, menos a língua de Kiki se agüentava dentro da boca:
– Kiki, você disse pro seu vizinho mafioso que o meu irmão tinha ido morar no interior?
– Disse.
– Caramba, quantas vezes eu disse pra você guardar segredo, que ele estava no serviço de proteção à testemunha?
– Ai, Sandrinha, quiquitem? A máfia ia encontrar ele, mesmo...! Sabe como a polícia federal é incompetente!
Essa característica fez Sandrinha romper com a amiga seis vezes. Kiki procurava, pedia desculpas e as duas reatavam. E nada de Kiki se emendar!
– Kiki, com ordem de quem você vendeu para outro país a fórmula do combustível ecológico que o meu pai descobriu?
– Ai, quiquitem? Seu pai não tem mesmo grana pra investir na produção...!
O tempo passou. Sandrinha foi trabalhar em um jornal famoso. Kiki abriu um salão de beleza. Graças ao aspecto fofoqueiro daquela mulher, os clientes só iam no máximo três vezes. Depois desapareciam. Kiki começou a passar necessidades.
Com pena da amiga, Sandrinha resolveu ajudar. Sua profissão a fazia conhecer muita gente importante e passou a indicá-las para o salão. Em pouco tempo, Kiki ficou conhecida como “a cabeleireira das celebridades”.
A história terminaria bem, se a mulher se emendasse.
– Kiki, por que diabos você foi avisar a NASA que meu primo estava escondendo um alienígena no sítio dele?
– Ai, quiquitem? Você como boa jornalista deveria saber melhor que ninguém que as pessoas têm o direito de saber tudo.
Aquilo foi a gota d’água.
– Boa jornalista, né? Tá bom.
Uma semana mais tarde, Sandrinha acordava de madrugada com a campainha do telefone. Kiki, é óbvio.
– Sandrinha, você contou pro meu marido que eu estou tendo um caso com o presidente da república?
– Ai, Kiki, quiquitem?... Você mesma disse que as pessoas têm o direito de saber de tudo, não disse?
– Disse, mas...
– Então! Ele foi o primeiro a saber. Antes de todo mundo. Assim fica mais fácil pra ele assimilar.
– “Antes de todo mundo”?
– É. Porque seu caso com o presidente vai sair amanhã, em todos os jornais...