Polícia Federal investiga advogados acusados de envolvimento fraudulento na chamada operação Monte Éden – as acusações vão de lavagem de dinheiro à sonegação fiscal
Por Sandra Santos
Com uma alusão à paraísos fiscais, a Polícia Federal começou em 30 de junho uma investigação em todo país para prender acusados do crime de evasão de divisas. Em São Paulo, o advogado Milton José de Oliveira, dono de um dos maiores escritórios de advocacia da cidade, foi detido sobre a acusação de um esquema de criação de empresas em paraísos fiscais. Foram feitas investigações sobre o empresário Antonio Carlos Chebabe, preso em 2004, acusado de envolvimento no esquema de sonegação fiscal e adulteração de combustíveis. A operação batizada de Monte Éden tem conexões no Uruguai – por isso Monte, em referência à capital uruguaia, Montevidéu; e Éden lembrando o “paraíso”.
De acordo com as informações da assessoria de comunicação da Polícia Federal, a operação teve o apoio da Receita Federal, do Ministério Público Federal e a cooperação de autoridades do governo uruguaio. O objetivo dos policiais foi cumprir cerca de 30 mandados de prisão e, aproximadamente, 80 de busca e apreensão, expedidos pela Justiça Federal. As ações acontecem nos estados de São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Ceará, Pernambuco e Paraná. No total, além de mais de 50 servidores da Receita Federal, 500 policiais federais cumprem buscas e prisões.
Em nota oficial, o presidente da OAB, Luiz Flávio Borges D’ Urso, repudiou a ação da Polícia Federal ao investigarem escritórios de advocacia em busca de achar alguma irregularidade. “Os representantes da OAB SP não estão acompanhando diligências da Operação Monte Éden, a pedido da Polícia Federal, porque, em momento algum, a Ordem vai coonestar com esse tipo de operação, que considera eivada de ilegalidades e uma afronta à cidadania”, defendeu D’Urso.
Para acompanhar as diligências nos escritórios de advocacia, foram convocados representantes da organização classista dos advogados (OAB). O esquema de fraudes da organização criminosa fazia uso de sociedades anônimas off-shore, com sede no Uruguai, em nome de “laranjas”, para ocultar e dissimular valores e bens dos “clientes” beneficiários. Entre os investigados estão membros de escritórios de advocacia, “laranjas” e grandes empresários.
Como funciona o esquema
Após a criação de off-shores no Uruguai, a quadrilha, utilizando-se das empresas estrangeiras, constituia sociedades limitadas no Brasil. Estas, por sua vez, adquiriam o patrimônio dos clientes, transferindo a propriedade dos bens. Entretanto, através da investigação, foi possível comprovar que tanto as empresas estrangeiras como as sociedades nacionais encontravam-se em nome de interpostas pessoas, meros “laranjas”. O objetivo de tal sistemática era permitir que os crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e sonegação fiscal fossem realizados sob aparência de legalidade, sendo denominado pelo grupo criminoso de “blindagem patrimonial”.
Um dos desafios dos investigadores foi identificar as diversas técnicas da quadrilha, uma vez que para cada empresário era criado um esquema diferenciado, de acordo com as necessidades do “cliente”. Para dificultar ainda mais a ação da polícia na identificação dos criminosos, a quadrilha aperfeiçoava sempre o modelo de fraude.
Inicialmente, eram celebrados contratos de prestação de serviços, com valores superiores a R$ 100 mil entre a quadrilha, formada por advogados e contadores, e os “clientes”, por meio do qual as empresas nacionais e estrangeiras eram utilizadas para “blindar” o patrimônio do “clientes”. Apenas para abrir uma sociedade anônima financeira (SAFI) no Uruguai são cobrados, em média, US$ 3.500, sendo posteriormente cobrados aproximadamente US$ 2.500 por ano para a manutenção da off-shore.
Para receber pelos valores decorrentes de sua atividade, o escritório de advocacia investigado criou e utilizou mais de uma dezena de empresas nacionais, sempre interpondo sociedades anônimas uruguaias como proprietárias. Apenas no ano de 2004, foram movimentados cerca de R$ 20 milhões em nome das empresas de “fachada” que, de fato, pertencem ao escritório de advocacia.
Os prejuízos causados à União são, até o momento, incalculáveis, considerando-se os inúmeros modelos de “blindagem patrimonial” oferecidos pelo escritório de advocacia para os vários clientes identificados.
Entre as empresas “clientes” do esquema criminoso estão indústrias de grande e médio porte da área têxtil, de combustíveis, plásticos, avícolas, construção civil e informática. No total são mais de 40 pessoas jurídicas envolvidas com a fraude.
Crimes cometidos
Os crimes cometidos pelos integrantes e beneficiários do esquema são: lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, evasão de divisas, sonegação fiscal, falsidade ideológica e participação de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes previstos na Lei de Lavagem de Dinheiro (art 1º parágrafo 2º , II, da Lei 9.613-1998).
Em Maringá (PR) foram cumpridos dois mandados de prisão e três mandados de busca e apreensão, expedidos pela Justiça Federal do Rio de Janeiro. Foi preso um contador que prestava serviços às empresas investigadas e também o diretor de uma empresa avícola da cidade. Nos locais de busca foram arrecadados vários documentos referentes à empresas nacionais e estrangeiras ligadas aos integrantes e beneficiários do esquema.
Segundo Luiz Antônio Batista Lino, delegado da Polícia Federal de Três Lagoas (MS), onde fica a sede de uma das empresas envolvidas no esquema, o grupo já vinha sendo investigado há cerca de oito meses. Em declaração à imprensa o delegado afirmou que no ano passado a Receita Federal calculou uma média de R$ 150 milhões sonegados pelo esquema. “Isso sem contar os impostos estaduais e municipais, que faria com que esse valor dobrasse”, afirmou Batista Lino.
Em entrevista coletiva após a operação, o superintendente da Polícia Federal em São Paulo, José Ivan Guimarães Lobato, esclareceu que a investigação começou após o fim da operação contra a “máfia dos combustíveis”, atribuída ao Grupo Chebabe. “Esta [a Monte Éden] foi uma das operações mais importantes da PF nos últimos tempos”.
Por Sandra Santos
Com uma alusão à paraísos fiscais, a Polícia Federal começou em 30 de junho uma investigação em todo país para prender acusados do crime de evasão de divisas. Em São Paulo, o advogado Milton José de Oliveira, dono de um dos maiores escritórios de advocacia da cidade, foi detido sobre a acusação de um esquema de criação de empresas em paraísos fiscais. Foram feitas investigações sobre o empresário Antonio Carlos Chebabe, preso em 2004, acusado de envolvimento no esquema de sonegação fiscal e adulteração de combustíveis. A operação batizada de Monte Éden tem conexões no Uruguai – por isso Monte, em referência à capital uruguaia, Montevidéu; e Éden lembrando o “paraíso”.
De acordo com as informações da assessoria de comunicação da Polícia Federal, a operação teve o apoio da Receita Federal, do Ministério Público Federal e a cooperação de autoridades do governo uruguaio. O objetivo dos policiais foi cumprir cerca de 30 mandados de prisão e, aproximadamente, 80 de busca e apreensão, expedidos pela Justiça Federal. As ações acontecem nos estados de São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Ceará, Pernambuco e Paraná. No total, além de mais de 50 servidores da Receita Federal, 500 policiais federais cumprem buscas e prisões.
Em nota oficial, o presidente da OAB, Luiz Flávio Borges D’ Urso, repudiou a ação da Polícia Federal ao investigarem escritórios de advocacia em busca de achar alguma irregularidade. “Os representantes da OAB SP não estão acompanhando diligências da Operação Monte Éden, a pedido da Polícia Federal, porque, em momento algum, a Ordem vai coonestar com esse tipo de operação, que considera eivada de ilegalidades e uma afronta à cidadania”, defendeu D’Urso.
Para acompanhar as diligências nos escritórios de advocacia, foram convocados representantes da organização classista dos advogados (OAB). O esquema de fraudes da organização criminosa fazia uso de sociedades anônimas off-shore, com sede no Uruguai, em nome de “laranjas”, para ocultar e dissimular valores e bens dos “clientes” beneficiários. Entre os investigados estão membros de escritórios de advocacia, “laranjas” e grandes empresários.
Como funciona o esquema
Após a criação de off-shores no Uruguai, a quadrilha, utilizando-se das empresas estrangeiras, constituia sociedades limitadas no Brasil. Estas, por sua vez, adquiriam o patrimônio dos clientes, transferindo a propriedade dos bens. Entretanto, através da investigação, foi possível comprovar que tanto as empresas estrangeiras como as sociedades nacionais encontravam-se em nome de interpostas pessoas, meros “laranjas”. O objetivo de tal sistemática era permitir que os crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e sonegação fiscal fossem realizados sob aparência de legalidade, sendo denominado pelo grupo criminoso de “blindagem patrimonial”.
Um dos desafios dos investigadores foi identificar as diversas técnicas da quadrilha, uma vez que para cada empresário era criado um esquema diferenciado, de acordo com as necessidades do “cliente”. Para dificultar ainda mais a ação da polícia na identificação dos criminosos, a quadrilha aperfeiçoava sempre o modelo de fraude.
Inicialmente, eram celebrados contratos de prestação de serviços, com valores superiores a R$ 100 mil entre a quadrilha, formada por advogados e contadores, e os “clientes”, por meio do qual as empresas nacionais e estrangeiras eram utilizadas para “blindar” o patrimônio do “clientes”. Apenas para abrir uma sociedade anônima financeira (SAFI) no Uruguai são cobrados, em média, US$ 3.500, sendo posteriormente cobrados aproximadamente US$ 2.500 por ano para a manutenção da off-shore.
Para receber pelos valores decorrentes de sua atividade, o escritório de advocacia investigado criou e utilizou mais de uma dezena de empresas nacionais, sempre interpondo sociedades anônimas uruguaias como proprietárias. Apenas no ano de 2004, foram movimentados cerca de R$ 20 milhões em nome das empresas de “fachada” que, de fato, pertencem ao escritório de advocacia.
Os prejuízos causados à União são, até o momento, incalculáveis, considerando-se os inúmeros modelos de “blindagem patrimonial” oferecidos pelo escritório de advocacia para os vários clientes identificados.
Entre as empresas “clientes” do esquema criminoso estão indústrias de grande e médio porte da área têxtil, de combustíveis, plásticos, avícolas, construção civil e informática. No total são mais de 40 pessoas jurídicas envolvidas com a fraude.
Crimes cometidos
Os crimes cometidos pelos integrantes e beneficiários do esquema são: lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, evasão de divisas, sonegação fiscal, falsidade ideológica e participação de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes previstos na Lei de Lavagem de Dinheiro (art 1º parágrafo 2º , II, da Lei 9.613-1998).
Em Maringá (PR) foram cumpridos dois mandados de prisão e três mandados de busca e apreensão, expedidos pela Justiça Federal do Rio de Janeiro. Foi preso um contador que prestava serviços às empresas investigadas e também o diretor de uma empresa avícola da cidade. Nos locais de busca foram arrecadados vários documentos referentes à empresas nacionais e estrangeiras ligadas aos integrantes e beneficiários do esquema.
Segundo Luiz Antônio Batista Lino, delegado da Polícia Federal de Três Lagoas (MS), onde fica a sede de uma das empresas envolvidas no esquema, o grupo já vinha sendo investigado há cerca de oito meses. Em declaração à imprensa o delegado afirmou que no ano passado a Receita Federal calculou uma média de R$ 150 milhões sonegados pelo esquema. “Isso sem contar os impostos estaduais e municipais, que faria com que esse valor dobrasse”, afirmou Batista Lino.
Em entrevista coletiva após a operação, o superintendente da Polícia Federal em São Paulo, José Ivan Guimarães Lobato, esclareceu que a investigação começou após o fim da operação contra a “máfia dos combustíveis”, atribuída ao Grupo Chebabe. “Esta [a Monte Éden] foi uma das operações mais importantes da PF nos últimos tempos”.